30/06/2020

Pessoas tendem a ser mais felizes e saudáveis em bairros caminháveis

A explicação para algumas pessoas caminharem mais do que outras pode ir além da escolha pessoal: em muitos casos, os níveis de caminhada no dia a dia são determinados pelo desenho urbano. A maneira como as ruas e bairros são traçados ultrapassa questões estéticas ou de planejamento e afeta diretamente o estilo de vida, a saúde, a prática de atividade física e o bem-estar de quem mora ou frequenta cada área da cidade.

O que muitas pessoas sentem e percebem no cotidiano – que alguns ambientes são mais convidativos a permanecer ao ar livre do que outros –, foi corroborado pela pesquisa de Adriana Zuniga-Teran, cientista do Centro de Estudos de Políticas Públicas da Universidade do Arizona. O estudo procurou entender os efeitos do desenho urbano na saúde das pessoas e, para isso, entrevistou moradores considerando uma classificação de quatro tipos de bairro:

Tradicionais: bairros centrais ou próximos do centro, com diversidade de usos e fachadas ativas.

Suburbanos: bairros mais afastados do centro, majoritariamente residenciais.

Condomínios: áreas residenciais cercadas por alguma estrutura física, como muros.

Cluster housing: blocos de casas construídos para o melhor aproveitamento do solo para espaços verdes.

A abordagem utilizada no estudo considerou a relação entre os fatores de caminhabilidade (ambiente construído) e a quantidade de pessoas caminhando (atividade física). Foram avaliados tanto fatores urbanos associados à saúde física e social das pessoas – atividade física, bem-estar, percepção de segurança, o efeito das árvores e a interação social com a vizinhança –, quanto elementos determinantes para a caminhabilidade: conectividade, uso do solo, densidade, segurança viária, estacionamentos, áreas verdes, vigilância (mais ‘olhos’ na rua tornam o ambiente mais seguro), a experiência ao caminhar e o senso de comunidade.

 

Os bairros em que essas características são mais acentuadas registram níveis mais altos de caminhabilidade, atividade física e bem-estar. O que ficou claro para os pesquisadores e foi comprovado pela análise é o que muitas pessoas sabem de forma empírica: quem mora em bairros tradicionais, com acesso a áreas residenciais e comerciais, caminha mais. As pessoas que moram em regiões afastadas dos centros e mais tranquilas relatam maior sensação de bem-estar mental. Já as que vivem em condomínios fechados não se sentem mais seguras que as demais, mesmo com todos os mecanismos de segurança normalmente utilizados.

Por fim, quem mora em áreas no estilo das chamadas cluster housing apresenta níveis mais altos de interação social com os vizinhos, mais contato com áreas verdes e espaços de convívio.

Em outras palavras, o impacto da configuração e do desenho dos bairros vai além dos momentos de deslocamento, alcançando esferas que, à primeira vista, parecem não ter qualquer relação com o planejamento urbano. O modo como as diferentes regiões de uma cidade são desenhadas afeta a percepção de segurança, os níveis de sociabilidade e o quanto as pessoas caminham – por motivos de lazer ou como meio de locomoção.

Quanto mais conectado e dotado de áreas verdes for um bairro, maiores tendem a ser os índices de caminhabilidade e, consequentemente, de atividade física e sensação de bem-estar. O mais antigo e democrático dos meios de transporte floresce em ambientes densos, caracterizados pela mescla de usos residencial e comercial, com fachadas ativas e espaços de convívio que criam destinos para os trajetos a pé. São bairros projetados na escala dos pedestres, com calçadas acessíveis, mobiliário urbano, boa iluminação e espaços agradáveis.

Se as pessoas caminham mais – e, assim, passam mais tempo na rua –, a tendência é que o bairro também se torne mais seguro. Isso porque as pessoas tendem a se afastar, de forma intuitiva, de lugares vazios. A presença de ‘outros’, mesmo que desconhecidos, acaba com o vazio das ruas, tornando-as mais seguras e vivas.

Tudo está correlacionado
Trata-se, afinal, de uma cadeia de variáveis que projetam e estimulam umas às outras. O bem-estar aparece como resultado da combinação entre as diferentes esferas da saúde – física, mental e social. Caminhar – em oposição a dirigir sozinho de um lugar a outro –, contribui para aumentar as interações sociais entre vizinhos e este movimento, por sua vez, é o que cria, com o tempo, a sensação de familiaridade e pertencimento a determinado local. Um bairro projetado na escala das pessoas potencializa essas interações a partir do modo como foi desenhado e eleva o senso de comunidade, associado à redução da criminalidade, à maior segurança das crianças e a níveis mais altos de felicidade.

O desenho urbano alia regulações de zoneamento e padrões de construção de vias, calçadas e demais infraestruturas e utiliza esses fatores para determinar o layout, a ‘cara’ que determinado bairro vai ter, incluindo características de acessibilidade, as interações entre o ambiente construído e a rua, a quantidade de áreas verdes e espaços públicos, a infraestrutura disponível para pedestres e ciclistas, entre outros. É por meio desses elementos e da relação entre eles que o desenho urbano influencia a quantidade de atividade física, a saúde e o bem-estar das pessoas.

Planejar e construir ambientes urbanos pensados a partir da perspectiva das pessoas – principalmente das que caminham –, é uma forma de garantir, também, uma população mais saudável e feliz.

 

Fonte: ArchDaily.

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