01/12/2020

Arquitetura biomimética: aprendendo com a natureza

Em 1941, o engenheiro suíço George de Mestral, acompanhado de seu cão, fazia uma das suas caminhadas recorrentes pelos Alpes quando observou que as sementes de uma determinada espécie dotada de espinhos e ganchos colavam constantemente na sua roupa e no pelo de seu cachorro. Foi a partir dessa observação e do estudo de tal planta que, sete anos mais tarde, ele criou o conhecido velcro, um tecido repleto de minúsculos ganchos que possibilitam a sua fixação em determinadas superfícies.

E na arquitetura não é diferente. A biomimética pode ser vista como uma abordagem projetual tecnologicamente orientada que busca soluções na natureza para além de uma mera replicação das suas formas, estabelecendo-se por meio de uma compreensão mais aprofundada das normas que a regem.

Ou seja, ela busca soluções sustentáveis na natureza, sem simplesmente replicar suas formas, mas por meio da compreensão das normas que a regem. Este enfoque multidisciplinar busca seguir uma série de princípios ao invés de se concentrar em códigos estilísticos.

The Living, com sede em Nova York, colaborou com a Ecovative Design, uma empresa que produz tijolos de micélio para substituir o plástico; juntos, eles construíram uma torre de 13 metros de altura no pátio do MoMA.

 

Apesar de ser considerada uma corrente contemporânea, e de fato tenha ganhado muita força nos últimos anos, o arquiteto Michael Pawlyn afirma em seu artigo How biomimicry can be applied to architecture, publicado no Financial Times, que um dos primeiros exemplos de arquitetura biomimética pode ser encontrado no trabalho do renascentista Filippo Brunelleschi o qual, após estudar a resistência das cascas de ovo, projetou uma cúpula mais fina e leve para sua catedral em Florença, concluída em 1436.

Santa Maria del Fiore, em Florença, na Itália.

 

Trazendo para os dias atuais está o sistema de resfriamento passivo em Eastgate Center de Mick Pearce no Zimbábue, que imita a forma dos cupinzeiros africanos para manter constante a temperatura interna, apesar das grandes variações de temperatura da região. O centro utiliza o ar frio da noite para resfriar a massa do edifício, e durante o dia este ar sobe do térreo em direção aos pavimentos superiores através de chaminés.

Eastgate Center, um projeto de Mick Pearce em Zimbábue, na África.

 

Quando Calatrava utilizou a torção do “torso humano” como uma metáfora para seu projeto Chicago Spire, sem se dar conta – e apesar das críticas – impulsionou um avanço na engenharia da construção: estruturas em espiral que se comportam muito bem frente aos esforços do vento. Muitos anos antes, Frank Lloyd Wright havia desenvolvido a ideia de uma raiz de árvore para projetos de edifícios altos, erguidos sobre um imponente apoio central, com os pavimentos em balanço como os galhos de uma árvore.

Torre Price, projeto de Frank Lloyd Wright, nos Estados Unidos.

 

O edifício Johnson Wax de Frank Lloyd Wright apresenta colunas que se expandem à medida que sobem, semelhante a folhas de vitória régia que flutuam na superfície da água. Estas colunas foram as primeiras estruturas em casca de concreto do mundo, possíveis apenas através do uso de telas reforçadas de aço. O resultado é um espaço de trabalho muito aberto e muito bem iluminado, uma espécie de jardim murado.

Johnson Wax, projeto de Frank Lloyd Wright também nos Estados Unidos.

 

Podemos encontrar outros exemplos atuais em projetos paramétricos, que – inspirados em carapaças de insetos, microrganismos celulares ou estruturas orgânicas – permitem ajustar os componentes estruturais para se abrir ou se fechar segundo a orientação solar, as condições climáticas ou o programa interno. Muitos destes projetos podem funcionar de forma reativa ao meio ambiente, ajustando-se às diferentes condições.

ICD, ITKE Research Pavilion, na Alemanha.

 

Esta, que pode ser chamada de ‘revolução biomimética’, é considerada hoje em dia uma importante diretriz rumo à sustentabilidade do ambiente construído representando um momento em que as construções não estão mais baseadas exclusivamente no que pode se extrair da natureza, mas atentas ao que se pode aprender com ela.

 

Fonte: ArchDaily.

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